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[Eu sou uma longa história, sou...]

Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança (Ernest Hemingway)

[Eu sou uma longa história, sou...]

Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança (Ernest Hemingway)

[O que aprendi, sobre mim, ao tornar-me mãe?]

Carla M. Henriques, 25.06.23

Este seria, à partida, um daqueles textos bonitos de escrever e ler. Cheio de floreados, de adornos, de fantasia, de puro amor. Em parte, não o será. Romantizar a maternidade continua a ser um erro. Fazer dela um bicho papão, também. É preciso olhar para a maternidade com peso e medida e, principalmente, de forma real. Cada caso é um caso. Uma mulher nunca mais será a mesma desde que decide gerar vida. Desde que decide ser mãe.

Quis muito ser mãe. Durante um tempo, creio, detestei sê-lo.

Fui mãe, de gémeos, com 24 anos. Sim, 24 anos. Sim, gémeos. Fui mãe, bastante nova, porque achei que era o meu projeto de vida. Quando o desejei, achei que seria simples, fácil e que no fim me iria sentir a mulher mais feliz do mundo. Durante quase dois anos, lutei para ser mãe, fiz vários tratamentos, sofri muito. Quase perdi os meus filhos após saber que já os carregava no meu ventre. Tentar ser mãe é uma luta solitária, dura, difícil. Mas ser mãe é, também, uma das experiências mais intensas que podemos viver. Tornar-me mãe foi uma das experiências mais transformadoras da minha vida. Por várias razões. Não foi o sonho que imaginei. Esteve longe de o ser. Em alguns dias esteve, muito, perto de parecer um verdadeiro inferno. Palpites daqui e dali. Julgamentos. Opiniões. Cansaço extremo. Desilusão. Baixa autoestima. Virei gata borralheira. Deixei de me cuidar. Visitas constantes, quando tudo o que queria era, somente, paz e sossego. Estar com os meus filhos. Olhar para eles. Criar uma relação com eles. Descansar.

Ser mãe fez-me aprender muito sobre mim mesma, principalmente a amar de uma forma gratuita e incondicional. A cuidar daqueles dois seres com amor, dedicação e responsabilidade e, acima de tudo, a valorizar cada momento com eles e cada sorriso deles. Aprendi, também, a desvalorizar as minhas dificuldades, as minhas incertezas, os meus medos e as minhas frustrações. Aprendi a ser mais paciente, mais flexível, mais criativa e mais resiliente. Aprendi a conhecer-me melhor, a reconhecer os meus limites e as minhas qualidades, a aceitar as minhas falhas e a celebrar as minhas conquistas. Aprendi a reinventar-me, a adaptar-me, a desafiar-me e a superar-me. Aprendi que ser mãe é uma jornada de descoberta, constante, de aprendizagem, dúvidas, crescimento e de felicidade, mas que jamais devemos deixar de ser mulheres e tornar-nos exclusivamente mães.

Ser mãe, também, me ensinou que sou muito mais forte e corajosa do que imaginava. Que viro leoa para defender os meus filhos. Mas, acima de tudo, descobri em mim uma força interna que me guia nos momentos mais difíceis. Aprendi que nem tudo é perfeito e que, apesar disso, afinal, está tudo bem.

A perfeição na maternidade é uma ilusão. Não é tudo perfeito como tentam passar. Aceitar que cometer erros faz parte do processo e que cada erro é uma oportunidade para aprender, melhorar e crescer é o caminho certo. Valorizar as pequenas coisas e encontrar a alegria na simplicidade é a melhor das opções. Aprendi, ao fim de algum tempo, a descobrir-me, que continuo a ser mulher. Sensual e com vontade de me sentir desejada.

Hoje, diria, que a maternidade não foi o fim da minha jornada pessoal, mas sim o início de uma nova fase. Ainda tenho muito a aprender, experienciar e descobrir sobre mim mesma e sobre o mundo ao meu redor. Ser mãe é um presente maravilhoso e desafiador, que me ensinou e ensina algo novo todos os dias e me ajuda a crescer como ser humano, agora de uma forma diferente. Ser mãe, sim, mas nunca deixar de ser mulher.

Volvidos, quase, 18 anos, ser mãe tornou-se um desafio diferente. Já penso quando irão voar e o “ninho” ficará vazio. Faz-me pensar que não sei onde ficaram estes, quase, 18 anos. E se, até há pouco tempo, achava que ser mãe era algo que jamais voltaria a querer, hoje, percebi que não aproveitei a maternidade como devia e com 42 anos, apesar da sociedade ser a maior julgadora – e que me importa a mim, seria perfeitamente capaz de voltar a gerar vida.

Seria uma mãe diferente. Mais emotiva. Mais disponível. Mais sensual. Mais feliz. Mais eu!

Porque não há idade para a maternidade quando há desejo e amor!

Texto original publicado em: O que aprendi, sobre mim, ao tornar-me mãe? - Repórter Sombra (reportersombra.com)

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