[O envelope]
Agarro o envelope que me passam para as mãos. Agradeço e saio sem olhar para trás.
Saio sem o abrir. Sento-me numa cadeira, na rua, a tentar ganhar coragem para abrir aquele bendito/maldito envelope.
Lá dentro a esperança ou o inferno.
Fico, ali, sozinha em silêncio. Tenho medo de abrir. Não sei se quero abrir. Se tenho coragem.
Precisava de ti. Ali comigo. Para me apoiares. Para me abraçares, independente do desfecho.
Só precisava de ti. Ali. Isso seria o suficiente.
Com o envelope, fechado, nas mãos, opto por pegar no telemóvel e fingir que nada se passa. Tento ganhar coragem.
Finjo que estou ali, naquela cadeira, simplesmente por estar.
Abro o Facebook. Vejo as novidades. Tudo visto.
Siga.
Abro o Instagram. Vejo as novidades. Tudo visto.
Siga.
E agora?
Não devias abrir o envelope? - Penso.
Não queres saber o que o destino te reserva? - Talvez não!
Continuo com medo. Precisava de ti. Como precisava. Precisava daquela abraço. Sabes? Aquele...
Precisava de ti. Ali. Só. Em silêncio. Ao meu lado. Para me veres chorar de tristeza ou alegria.
Não estás!
O abraço que precisei nunca surgiu.
E agora?
Ironia das ironias. Tu surges, vindo não sei de onde. Mas não por mim. Não para mim. Eu continuarei, ali, sozinha, em silêncio na cadeira. Baixo a cara. Não te quero encarar. Não quero perceber que não é por mim que estás ali.
Pego no envelope, fechado, atiro-o para dentro da mala.
Perco a coragem.
Mais tarde, sozinha, como sempre, irei ver o que o destino me reserva.
Para já…faço como tu, atiro-o para dentro da mala, e ignoro! Quando tiver coragem...logo abro.