Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança
(Ernest Hemingway)
Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança
(Ernest Hemingway)
... a gratidão é um sentimento tão profundo quanto o amor.
Eu sou, simplesmente, grata por tudo! Por todos os dias bons e maus. Pelas manhãs de sol e tardes de chuva, como hoje. Pelos que entram, repentinamente, na minha vida e até pelos que dela saem, às vezes ainda mais repentinamente. Pelos amigos, com quem rio e choro, pelos inimigos que me fizeram/fazem chorar para depois rir à gargalhada. Pela minha família que, embora, grande parte ao longe estão sempre perto. Pelo dia e pela noite. Pelo bem e pelo mal. Pelo sim e pelo não. Pelo amor, pela amizade e até pelo desprezo.
Sou tão grata por tudo! Até pelos dias tristes que tenho, mas que dão sempre lugar a dias cheios de sorrisos.
Sou a tempestade disfarçada de bonança. Sou a dúvida disfarçada de uma enorme certeza. Sou tristeza no carnaval mas alegria nos dias de imensa chuva. Sou a que se perde em multidões e se encontra ouvindo, aquela música que tanto me diz. Sou a que gosta do, por vezes ensurdecedor, silêncio porque a minha própria mente ensurdece. Aparento, muitas vezes, ser gelada porque não quero que todos saibam dos vulcões que habitam a minha alma.
Sou estranha. Nunca o escondi.
Entendo os outros e muitas vezes não me entendo. Sou impulsiva, faço planos mas geralmente é o acaso que me guia. A minha vida nunca foi cor-de-rosa, embora pareça aos olhos dos outros. Não conheço o meio-termo, basta dizer que sou balança!
Sou de extremos. Oito ou oitenta.
Não troco o rosa por nenhuma outra cor. Ou odeio ou amo. Sou açúcar ou sal. Pareço, muitas vezes, ter coragens inesperadas embora, os meus medos, sejam bem reais e estejam guardados a sete chaves, onde ninguém jamais pode chegar. Embora odeie as segunda, mas ainda sim prefiro a determinação da segunda-feira ao tédio de um domingo. Prefiro a dor da certeza ao incómodo, de um talvez.
Sou sim e não.
Na maioria das vezes, tenho as perguntas e as respostas. Só não quero ver. Possuo mente forte e coração mole. Sei ser companhia mas, em alguns momentos, também sei ser solidão. Gosto da paz do meu quarto, onde deixo que o meu pensamento se perca, mas amo a fúria das ondas e o cheiro do mar. Valorizo começos mas sei que alguns fins são necessários, mesmo que doam. Por vezes falo muito mas arrependo-me no momento a seguir.
Sou coragem quando me desiludo com alguém, e quantas desilusões já tive, mas consigo ser o medo quando gosto.
Choro, sem razão, quando esperam que sorria. E sorrio, sem motivo, quando esperam que chore. Muitas vezes, transformo-me em cinzas, para renascer depois. E quantas vezes isso já aconteceu! Mesmo sem querer, vou ao inferno das emoções e volto ainda mais forte e brilhante. Quando me calo, a minha mente e os meus olhos falam. Basta estar atento. Sou inverno, outono, primavera e verão.
Sou tudo ou nada.
O meio-termo desconcerta-me , terremotos reconstroem-me. Pareço a mais profunda das calmas mas no fundo sou um verdadeiro caos.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez. Para quem quiser ver, a vida está cheia de nascimentos. Nascemos muitas vezes ao longo da infância, quando os olhos se abrem em espanto e alegria. Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca. Nascemos na sementeira da vida adulta, entre invernos e primaveras maturando a misteriosa transformação que coloca na haste a flor e dentro da flor o perfume do fruto. Nascemos muitas vezes naquela idade avançada onde os trabalhos não cessam, mas se reconciliam com laços interiores e caminhos adiados. Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar. Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de certas lágrimas. Nascemos na prece e no dom. Nascemos no perdão e no confronto. Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra. Nascemos na tarefa e na partilha. Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos. Nascemos dentro de nós e no coração de Deus."